sábado, 5 de setembro de 2009

A IDADE DAS TREVAS E A IGREJA NO SEC. XXI

Quando estudava na faculdade de História a disciplina que mais me atraia era História Medieval. Talvez porque tenha me identificado com o professor. Sei que investi muito dinheiro adquirindo livros sobre este período da nossa história. O imaginário medieval é algo espetacular. As justificativas eram sempre apelando para o espiritual e sobrenatural. Em nome de Deus chegou-se a vender perdão de pecados, pedaços da cruz de Cristo, pedaços dos ossos do jumento que levou Jesus para Jerusalém. Visitar túmulos de santos era uma prática que estava na moda. As Escrituras Sagradas eram distorcidas para atender as demandas financeiras e de poder da Igreja Romana.
Quando conclui meu curso verifiquei que, em termos espirituais, a igreja retrocedeu àquele período. Abandonamos os pressupostos teológicos sadios e abraçamos com ânsia o imaginário medieval. Quem crê que uma boa teologia é fundamento para crescimento sadio da igreja é taxado de herético ou mesmo frio e tradicional e merece o tribunal do santo oficio moderno (evangélico). A igreja está à sombra da Idade Média. Suas práticas são medievais e encontrou no vazio da pós-modernidade o terreno ideal para crescimento. Vejamos algumas práticas medievais em andamento:
1 – Atos proféticos – Terminologia desconhecida da Bíblia. Acredito que por não vivenciarmos com clareza, decência e boa base bíblica os dons espirituais, alguns despercebidos “teólogos” cunharam esta terminologia inócua. Para tais, os atos proféticos são comportamentos feitos aqui na terra que terão como conseqüência suas realizações no mundo espiritual. Daí vermos comportamentos dignos de dó e de total desprezo. Alguns em nome de uma espiritualidade doentia chegaram a tomar um avião e despejar óleo ungido sobre cidades, achando que assim estariam abençoando tal área geográfica. Ouvi de um pastor em um programa de televisão que: “por ter entendido que o óleo ungido seria jogado sobre Belo Horizonte então os demônios sairiam de Belo Horizonte e iriam para Sabará, lugar originador de Belo Horizonte”. Tal pastor correu para sua cidade (Sabará) e realizou atos proféticos para impedir a chegada dos demônios que supostamente sairiam de Belo Horizonte. Sabará é cidade vizinha a Belo Horizonte.
Outros convocaram os membros de suas igrejas para se posicionarem na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, para derramarem leite e mel sobre cada quarteirão desta avenida no intuito de ver a cidade prosperar.
Fiquei a me perguntar: o que mudou após tais atos proféticos? Os índices de criminalidade, prostituição, tráfico de drogas etc., diminuíram? Há poucos anos tínhamos em Belo Horizonte uma média de 03 mortes por final de semana. Hoje chegamos a mais de 20. Por que tais atos proféticos não resultaram em melhoria desses índices? A reposta mais simples é que são inócuos.
2 – Nomes Amaldiçoados – Pratica anti-bíblica. Alguns crêem que alguns nomes trazem consigo maldição e que pessoas que possuem tais nomes são amaldiçoadas. Daí vermos um comportamento infantil de até pastores trocarem seus nomes. Parece com a prática da numerologia que diz que alguns nomes precisam ser modificados para atrair melhorias em diversas áreas. A verdade é que não existem nomes amaldiçoados. A verdade é que tal ensinamento aprisiona pessoas em nome de Deus. Adoece e não apresenta cura, pois, a simples troca de nomes nada significa no mundo espiritual.
3 – Quebra de Maldições Hereditárias – Prática anti-bíblica. Alguns pregadores afirmam que demônios perseguem famílias inteiras. Que demônios que oprimiram parentes no passado acompanham as gerações posteriores. Milhares de cristãos adoecem por causa de ensino herético. Para tais pregadores necessário se faz fazer correntes espirituais para quebrar tais maldições. No final da corrente o pastor ora e o mal vai embora. Isso cheira a xamanismo. Isso cheira a animismo. Nada me convence que isso não é somente para tirar dinheiro dos pobres cristãos, que em tudo são muito crédulos. Se o sacrifício do Senhor Jesus Cristo na cruz não foi suficiente para nos libertar de qualquer maldição, então nada mais será. Se o sangue derramado na cruz não quebra nossas maldições, muito menos a oração de um pastor qualquer. Paulo nos diz que já somos mais que vencedores em Cristo Jesus. João nos ensina que o maligno não nos pode tocar. Pedro nos lembra que somos povo de propriedade exclusiva de Deus, sacerdócio real, nação santa. Isso bastaria para nos deixar descansados. Mas os homens criaram mediadores para interferirem na obra do Calvário. Em Cristo todo cristão é completamente livre. Satanás é limitado por ser criatura. Somente age dentro dos limites que Deus permite. Deus nunca nos entrega nas mãos de Satanás. Em Cristo somos novas criaturas, entramos em um novo aion (tempo) onde Cristo é nosso Senhor e a escravidão do passado foi revogada e cravada na cruz.
4 – Dar legalidade – Prática anti-bíblica. Ensino esdrúxulo que diz que se pecarmos damos legalidade para o diabo atuar em nossas vidas. Como se nossa salvação tivesse dependido exclusivamente de nós ou se nós tivéssemos grande parte nessa salvação. Quando Cristo nos comprou na cruz passamos a ser dEle. Somente dEle. Fomos comprados por bom preço conforme Paulo nos diz em primeiro Coríntios. Precisamos lembrar que a Graça de Deus nos foi comunicada. Que fomos salvos pela Graça e somente isso. Que a cruz nos leva a ser propriedade exclusiva de Deus. Se somos propriedade exclusiva de Deus não temos direito de dar legalidade para o diabo em instância alguma. Paulo se dizia escravo de Cristo. Escravo não tem vontade, poder e não possui nada para dar. De onde tiraram que podemos dar legalidade ao diabo?
Com esse ensino gera-se uma neura que perturba o cristão que passa e olhar para ver se tudo o que faz não o faz em pecado. O medo se instalou.
5 – Objetos consagrados – Prática anti-bíblica. Alguns mercenários com nome de pastores chegam a distribuir cimento abençoado, outros martelinhos cheios de óleo para quebrar maldições. Alguns descobriram um jeito bom de ganhar dinheiro ao distribuírem unções com ungüentos ou essências vindas do oriente médio. Vi um pregador oferecer a unção com mirra para o embelezamento interior e exterior. Creio que não funcionou para seu casamento, pois, acaba de divorciar. São práticas medievais que ainda persistem em nosso meio. Tais pregadores nunca souberam que tudo vem da maravilhosa Graça de Jesus. São descarados e abomináveis tais personagens.
6 – Unções com os mais variáveis nomes – Prática anti-bíblica. Por uma quantia de dinheiro prometem unções de todos os tipos. O apóstolo Renê Terra Nova ofereceu unção de nobreza de Salomão por R$ 10.000,00. O mesmo apóstolo recebeu profecia de Morris Cerullo que porque ele, o apóstolo, estava segurando sua camisa e Cerullo era Judeu, então o apóstolo receberia a unção de Davi. Novamente o pr. Silas Malafaia repetiu, hoje (05/09/09) o programa onde Morris Cerullo promete unção financeira, cura e envio de anjos aos lares de quem doasse R$ 900,00. Talvez o argumento para se repetir o programa seja porque milhares de pessoas ligaram para dizer que aceitavam tal desafio financeiro. Vox populi nunca foi Vox Dei. Se fosse nunca teriam pedido a soltura de Barrabás, nunca pediriam a Aarão que fizesse um bezerro de ouro para adoração. A massa é levada por manipulação e tais pregadores fazem das massas evangélicas massa de manobra. São incapazes de usar os neurônios. Dizem que uma palavra profética não pode ser desprezada. Digo para desprezarmos toda palavra profética que ferir a Palavra de Deus. Nunca uma profecia enunciada por um homem foi maior do que a Palavra de Deus. Paulo diz para julgarmos as profecias e se isso é assim é porque existem falsos profetas e falsas profecias. Mas quando muito dinheiro circula vale tudo. A Palavra de Deus é suficiente para nos assegurar equilíbrio emocional e espiritual. É suficiente para nos emancipar das sombras da Idade Média espiritual e nos fazer maduros em Cristo.
A igreja precisa pregar O Evangelho e não sobre o evangelho. Os pregadores precisam entender que suas funções são apresentar o cristão maduro diante de Deus e pregar um evangelho descontaminado.
Deixemos as crendices e nos voltemos para a realidade da Palavra de Deus.
Soli Deo Gloria
Pr. Luiz Fernando R. de Souza

12 comentários:

  1. Parabéns professor!
    Lembro-me das suas aulas sobre a Idade Média no CBG. Realmente, a igreja evangélica hodierna está completamente doente. Resta-nos orar e clamar misericórdia a Deus.
    Abração,
    Davi Lago

    ResponderExcluir
  2. Meu jovem Davi,
    foram bons momentos aqueles. Creio que essa onda dificilmente passará. As lideranças coadunam com ela e ela faz bem para eles. Enquanto estiverem lucrando nada os fará mudar de idéia.
    Vamos continuar na Palavra.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. Pr. Luiz Fernando,
    Não é interessante que sempre é preciso chamar o povo de Deus ao Evangelho? Foi assim em Israel, nos primórdios da Igreja, e é ainda hoje. Acontece que o verdadeiro povo de Deus sempre voltará ao Evangelho, enquanto os que não fazem parte se distanciarão ainda mais dele, entregando-se mais fervorosamente às práticas pagãs, gnósticas, diabólicas (não lhes falta fé na mentira). Logo, ao meu ver, são dois os problemas:
    1- A não conversão de muitos ditos crentes, os quais estão na igreja como jóio, a fim de servir ao seu senhor, o diabo.
    2- Crentes redimidos que ainda não compreenderam a soberania de Deus, e de que, por mais que o nosso coração pecaminoso abomine a verdade de não termos nenhum poder sobre nós e nossa salvação, lutamos contra esta verdade, praticando tantos pecados contra Deus como é-nos possível praticar.
    Certa vez, durante a EBD, um irmão afirmou que muitos crentes não tomavam "posse" da bênção que Deus dava. A imagem era de uma bênção flanando distraidamente a espera de alguém pegá-la. Como se a vontade divina dependesse da vontade humana, como se Deus fosse subserviente ao homem, como se a Sua perfeição estivesse condicionada à nossa imperfeição, como se o Criador de todas as coisas, o Deus Todo-Poderoso, santo e justo precisasse esperar um pouco de inteligência, fé ou disposição do homem para agir. Será possível?
    E isso me leva a duas implicações:
    1- O crente não lê a Escritura.
    2- Quando lê, interpreta-a segundo pressupostos não bíblicos. Não busca a revelação divina, mas a confirmação da revelação humana previamente recebida. Falta-lhe o espírito dos irmãos de Beréia; falta-lhes a mente de Cristo; falta-lhes racionalidade; e a compreensão da objetividade bíblica, pois estão entregues à própria subjetividade ou a de outros tolos.
    E o que sobra são supertições, delírios e um espírito nitidamente antibíblico, como o irmão tão bem pontuou.
    Cristo o abençoe!
    Forte abraço.

    ResponderExcluir
  4. Prezado Rev. Pr. Luiz Fernando R. de Souza,
    Mais uma vez suas observações foram pertinentes e agudas. Algumas - talvez muitas - igrejas modernas constituem o campo de atuação de charlatães de todo tipo que, em nome de Jesus e do Evangelho, propalam toda espécie de mentiras. E nós sabemos a quem servem os mentirosos. Não podem alegar desconhecer a Bíblia, porque a têm em mãos todo o tempo. O problema é que querem ver nela o que lhes favorece; não conseguem mais ler um texto bíblico contra si mesmos, em real contrição. Se assim o fosse, teriam desistido de seus intentos vis.
    Como vítimas da sua própria ambição - Paulo lembra que tais homens irão de mal a pior - vitimam os incautos também, e criam obstáculos à obra de Cristo.

    Um abraço,

    Hermes Pereira

    ResponderExcluir
  5. Pastor obrigada pelo aprendizado.Que essa paz continue reinando em sua vida.Existem crentes que as vezes acreditam em milagres então procuram certos lugares com crendices para se livrar do mal que acompanham sua família.Eles não sabem que só dependem deles essa falta de um Deus verdadeiro um Deus que entregou seu único Filho para morrer pelos nossos pecados.Um abraço.

    ResponderExcluir
  6. Pastor Luiz, sinto também uma aversão sobre tais acontecimentos em nosso meio, o Senhor em seu tempo irá mostrar direitinho sua resposta à tais abominações... Wagner Martins,

    ResponderExcluir
  7. Meu Caro!
    Sabe o que gosto? que estando certo ou não, o Reverendo nunca teve medo de se expor, admiro isto e faço de seu comportamento um exemplo, talvez seja o estilo medieval (risos).
    Grande Abraço
    André Batista

    ResponderExcluir
  8. Prezado irmão André,
    Vamos continuar na busca pela verdade.
    um abraço

    ResponderExcluir
  9. Querido Pastor Luis Fernando, a muito tempo, venho observando essas atitudes estravagantes no meio evangelico. Os absurdos são inúmeros, o senhor (Pastor Luis), não citou nem um décimo do que vem acontecendo no meio evangélico. O que mais falta ao povo de Deus da atualidade, imagino eu, é a volta á Palavra de Deus, é que ninguém mais tem tempo para a leitura do "Manual Sagrado", e os líderes (nós),na maioria das vezes não estão incentivando nossas ovelhas á leitura da Palavra de Deus, há Igrejas Evangélicas, que as "ovelhas" nem mais carregam a Bíblia. Como as pessoas não tem tempo para a leitura do "Manual Sagrado" e como vivemos num mundo de "correria", de "fest foot", as pessoas querem as coisas de Deus também como um "fest foot", rápidas e estão até dispostas a pagar por isso,desde que não tenham que fazer nada.E aí que os "líderes espertalhões" estão nadando de braçada, e ganhando muito "DINHEIRO", criaram uma espécie de "indulgência do século XXI". Acho que estamos precisando de uma "REFORMA II" de novos "MARINHOS LUTEROS". Que tenham coragem de falar e expor suas vidas e opiniões. Parabens pelo excelente artigo. Vosso servo Pr.Marcelino.

    ResponderExcluir
  10. Pr. Marcelino,
    a igreja tornou-se em um fast food realmente. Ninguém quer parar para pensar e servir racionalmente a Deus. Tudo vai às pressas e logo acaba sendo mal feito. As pessoas preferem um alívio emocional do que uma libertação. É mais fácil pagar pela benção do que lutar por ela.
    Suas palavras me encorajam a continuar.
    Um abraço
    Naquele que bebeu até a última gota do cálice que lhe estava proposto conscientemente.

    ResponderExcluir
  11. Graça e paz Pr. Luiz. Esses absurdos estão cada vez crescendo mais, pois isso tem aparência de santidade e de poder espiritual, com isso, muitos líderes inventam tal coisa para atrair os incautos. Aqui na minha cidade (Teresópolis, RJ), não está muito diferente daí e de outros centros urbanos. Igrejas sérias estão vazias e "centros espíritas gospel" estão cada vez mais cheios. Mas quem é sério não se deixa levar por esse tipo de coisa. Está surgindo uma nova geração de crentes que desconhecem a graça e o poder de Deus, gente que daí alguns anos estarão decepcionadas com Deus pois aprenderam o que Deus nunca falou. Estejamos preparados para ajudar essa geração.
    Fique na Paz!
    Pr Silas

    ResponderExcluir
  12. Pastor, é uma pena não o conhecer...
    Deus abençoe a tua vida...estas palavras chegaram em minha vida em um momento de muita necessidade...
    tu eis uma benção !

    ResponderExcluir